quinta-feira, janeiro 05, 2006

CORAÇÃO MUDO

Ninguém me ouviu, mas acordei o silêncio
O silêncio que portava em meu coração
Desde a última vez em que ele berrou
Se acabou em gritos até seu derradeiro rosnar

E assim ficou, mudo, calado, sem boca
Porque a cada palavra tentada, decepção
Em cada momento de abertura, retroação
Numa leve possibilidade de calor, geada

Agentes externos que não entravam
Neste impenetrável invólucro de emoções
Com sua metade que pulsa e a outra que engrena
Porque o portal está um pouco mais acima

Não entram na mente senão pela longevidade
Tampouco no peito senão pela proximidade
Tão longe quanto as palavras e as ações
Assim perto como um olhar e um gesto

Não preciso de boas e belas palavras de uma poetiza
Para entender e sentir o que tenho que saber
Porque ele estava somente mudo, não surdo
E o primeiro passo para a cura é escutar com atenção

Escuto, observo, toco, guardo
De forma a deixar-te iluminar minh'alma, curar esta mudez
Bebendo do teu olhar, sentindo teu sorriso, sugando teu abraço
Decorando cada dobra e cada pintinha de teu corpo azul

E como num átimo, conheço-te há anos
Pela afinidade eletiva que nos escolheu
E fez meu coração, rouco, suspirar, sussurrar, falar
Tagarelar, gritar com fôlego infinito para o céu que se abriu


Luiz Eduardo Bimbatti
Milão/MI - Itália
Dezembro 2005