terça-feira, novembro 09, 2004

INGÊNUO

Quero voltar a ser ingênuo
Poder crer que um pássaro é um pássaro
Que um moinho é um moinho
Que um ser humano é um ser humano

Tudo foi deturpado pelos supostos pensantes
Que numa infinda busca por rotulações
Acabaram por definhar sua desperdiçada espécie
Cavando a cova de seus próprios desejos

Esquecem que ao subjugar semelhantes, subjugam-se
Fazendo com que as maledicências sejam para si
Numa auto-flagelação espontânea e voluntária
Que os coloca num amorfo círculo vicioso

Representando o almejo de serem o que não precisam
Procurando meios de concretizar o nítido abstrato
Através das realizações espetaculares de suas emoções
Profetizam o fim do inacabado, mal iniciado

E abusam daqueles que deveriam lecionar-lhes
Pela esperteza ignóbil de suas ambições
Condizentes com a natureza póstuma de suas almas
Criadas na ingenuidade, maturadas na humanidade

Luiz Eduardo Bimbatti
São Paulo/SP - Brasil
Março 2003